segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O pior vazamento de óleo da história dos Estados Unidos


New Orleans (AE) - O petróleo parou de vazar e a maior parte das áreas costeiras do Golfo do México está livre da espessa camada de sujeira que passou meses sendo levada pelas ondas, mas não há dúvida de que os efeitos do pior vazamento de óleo da história dos Estados Unidos ainda serão sentidos durante muitos anos. Seis meses depois da explosão da plataforma Deepwater Horizon, em 20 de abril, o ambiente e a economia de todo o norte do Golfo do México continuam a enfrentar os efeitos da incerteza, que dissemina o desânimo, arruína os meios de sustento da população local, deixa os pescadores sem trabalho e afasta os turistas - e isso sem contar os danos ao mar e à costa.
Pode demorar muitos anos até que os efeitos do derramamento sejam totalmente compreendidos. Os cientistas ainda não sabem ao certo nem ao menos de que forma o vazamento de 780 milhões de litros do poço operado pela British Petroleum (BP) - dos quais 643 milhões ficaram no Golfo do México - afetará a vida das plantas e dos animais marinhos que habitam um dos mais diversificados ecossistemas aquáticos do planeta.

“Há muita coisa que já está começando a se revelar”, observou Steve Murawski, cientista da Agência de Pesquisa Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos. “Mas ainda vai precisar de um tempo para que tenhamos uma perspectiva mais ampla da situação.”

Murawski acredita que os cientistas passarão anos estudando a região, como aconteceu depois do desastre ambiental envolvendo o Exxon Valdez, ocorrido em 1989 no Alasca. E o vazamento do Exxon Valdez foi proporcionalmente bem menor, em comparação com o da BP. “Certamente viveremos com isso durante décadas”, declarou.

Os cenários apocalípticos temidos nos piores dias do derramamento não se concretizaram e a maior parte do petróleo evaporou ou dispersou-se, os pântanos voltaram à vida e o número de animais mortos encontrado foi bem inferior ao esperado. Mesmo assim, essas boas notícias não escondem temores de que o país talvez esteja mudando o foco prematuramente, na crença de que não seriam possíveis mais danos em decorrência do desastre ambiental. “Posso dizer com honestidade que estou muito pessimista com relação a isso”, diz Byron Encalade, presidente da Associação de Ostreicultores da Louisiana. “Não temos nem ao menos uma avaliação completa dos danos nem de quanto tempo será necessário para arrumá-los. É disso que a gente vive. Não temos a quem recorrer”.

Passados seis meses do desastre, o governo norte-americano já reabriu cerca de 90% das águas do litoral para a pesca e assegura que os frutos do mar extraídos das áreas recém-reabertas estão bons para o consumo. Mas a indústria comercial de pesca sofre agora de um problema agudo de imagem. Os carregamentos da camarões e de peixes estão saindo, mas os processadores desses alimentos têm-se deparado com a fraca demanda de um público desconfiado.

Existe óleo abaixo da superfície

O governo norte-americano afirma que a maior parte do óleo do Golfo do México já desapareceu. Mas pesquisadores independentes têm encontrado quantidade significativa de petróleo abaixo da superfície marinha, inclusive no leito oceânico. Eles temem que esse óleo que não se dissipou venha a afetar espécies da base da cadeia alimentar das espécies marinhas, o que interferirá na taxa de reprodução de peixes como o atum azul, que habitou a região do vazamento durante a época de procriação.

O óleo ainda está grudado nas areias das praias ao longo da costa norte-americana e ainda torna imprópria grande parte da orla da Louisiana. Os pântanos da Baía de Barataria - onde há viveiros produtivos de camarões e de ostras e lugar que dá abrigo a milhares de espécies de aves marinhas e pássaros migratórios - ainda estão imundos.

Um fundo de compensação de US$ 20 bilhões criado pela BP liberou até o momento cerca de US$ 1,5 bilhão para empresários e pescadores afetados por um verão de baixa receita. Apesar disso, muitos deles ainda esperam pelas reparações e encontram bastante dificuldade para pagar suas contas. A BP estará sujeita a bilhões de dólares em multas assim que a análise dos danos for concluída.

Enquanto isso, seis meses depois da maior catástrofe ambiental da história recente dos Estados Unidos, a indústria da exploração de petróleo e gás em águas profundas passa por mudanças. O governo norte-americano impôs rapidamente novas regras para a exploração depois da explosão da plataforma Deepwater Horizon, na qual morreram 11 trabalhadores e que deu início ao derramamento.

Uma moratória à exploração de poços em águas profundas no Golfo do México foi levantada há pouco tempo, mas não sem antes as companhias responsáveis pelas plataformas terem sido obrigadas a atender a normas mais rigorosas para poder voltar a operar.

O risco de uma nova catástrofe no futuro persiste porém, uma vez que as petrolíferas continuam a perfurar em águas profundas apesar de ainda não terem aplicado novas medidas de segurança - como melhores sistemas de vedação ou a realização de testes e análises para detectar perigo de explosão - que poderão evitar acidentes no futuro.

Nenhum comentário: